sexta-feira, 26 de novembro de 2010

DESERTOS


Os desertos têm profundas e desafiadoras verdades espirituais. Atravessá-los ou neles permanecer não é fácil. Mas há fontes de consolo e reafirmação da fé quando somos conduzidos pelo Senhor aos desertos.

São lugares de maior intimidade com Deus. A ausência do burburinho dos grandes aglomerados humanos abre espaço para a reflexão, o ouvir e compreender os mistérios Divinos. Conseguimos ver a sarça que se queima, mas não é consumida pelas chamas, a nos desafiar, a nos aproximar um pouco mais para ver o invisível. (Êxodo 3). Deus nos fala e nos desafia a ir um pouco além na compreensão de sua soberania. A entender que a revelação é didática, crescente e sempre tem algo mais ainda não percebido por aqueles que nos antecederam na caminhada desértica da vida. (Êxodo 6:3).

É no deserto que das rochas íngremes, secas, rígidas, férreas e sem vida aparente, Deus faz brotar a água cristalina que sacia a nossa sede de compreensão e amor. São águas preciosas que nascem da pedra nos momentos em que a sede debilita o nosso ser. Sem o precioso líquido perecemos (Êxodo 17 e Números 20). Mas o Senhor nos convida a falar à rocha da salvação. Em nosso ímpeto tocamo-la. Dela nos saciamos. Somos revitalizados, revigorados e descobrimos que em Cristo a sede não mais existe (João 4:14). A misericórdia do Senhor. Sua graça insondável e inesgotável nos diz que a plenitude da vida supera todas as murmurações e incompreensões daqueles que nos cercam, a tentar desviar o nosso caminhar diário. São momentos de refrigério para alma cansada e sedenta. Resta-nos agradecer por estar no deserto sob a nuvem da proteção Divina (Êxodo 13:21).

Os desertos oferecem oportunidades de saborear o maná de cada dia (Êxodo 16:35), convictos que na sexta-feira Deus nos oferece em dobro da sua graça. Isto significa que devemos reservar tempo para adorá-lO no seu dia. São bênçãos dos desertos, que embora áridos e às vezes tristes, nos oferecem alegrias incontidas.

Em alguns momentos Deus manda alguém a nos encontrar no deserto. Pessoas queridas que nos abraçam e choram conosco. Pode ser um Arão (Êxodo 4:27), irmão mais velho, com suas sofridas experiências, que nos trás boas novas dos queridos que ficaram. Em outros momentos é o sábio Jetro (Êxodo 18) que analisa o nosso proceder. Oferece-nos subsídios para melhorar. Sem críticas ferinas nos orienta a melhor administrar os talentos recebidos. São pessoas especiais. Acostumadas às canículas do deserto. Sabem como palmilhar cada obstáculo. Não ofendem. Apenas ajudam e sugerem como fazer melhor. Ouvi-las trás à alma a alegria de escutar a própria voz do Senhor. Não são arrogantes. Apenas sugerem. Envoltas no amor, não há como desprezar seus conselhos. Deus sempre tem Jetros a se encontrar conosco nos desertos da existência.

Mas às vezes nos desertos somos procurados por corações amargurados. Vidas atribuladas. Tristes. Em dívida com a sociedade. São pessoas que nada tem a oferecer. Desejam apenas compartilhar a dor de suas desditas. Sabem que estamos sofrendo. Acreditam que ao compartilhar suas tristezas e desapontamentos nos farão sentir que não estamos sozinhos na senda da dor. Davi foi procurado por pessoas assim no deserto (1 Samuel 22:2). Juntos administraram a dor da traição. Das intempéries da vida. Chorar com os que choram a mesma dor torna as lágrimas menos alcalinas.

Difícil compreender quando somos levados ao deserto para sermos tentados. Se já não bastassem as tentações comuns no caminhar diário, Deus em sua misericórdia busca burilar o nosso caráter. A têmpera do nosso ser é submetida ao confronto com o inimigo. Vencê-lo significa estar preparado para embates maiores. Jesus foi levado ao deserto para ser tentado (Mateus 4:1).

Os desertos são lugares de restauração do amor traído. Quebrado pelas infidelidades e quedas traiçoeiras que acenam com liberdade. Na experiência triste de Oséias, Deus se propõe levar seu povo rebelde e traidor ao deserto. Não para castigá-lo, mas para segredar-lhe ao coração o seu terno e grande amor (Oséias 2:14). Este segredar Divino só é possível ouvi-lo quando nos dispomos adentrar à presença do Senhor para reconstruir e pensar as feridas deixadas pelo pecado da ingratidão. Deus sempre nos sussurra à alma o quanto o seu amor é restaurador.

Nos desertos aprendemos a decifrar os enigmas da fé. A colocar nos seus devidos lugares os princípios que dão suportes ao nosso verdadeiro compromisso com Deus. A escoimar conceitos vazios da religiosidade obsoleta. Refletir a possibilidade de não errar em questões vitais da eternidade da nossa alma. Ao se converter Saulo foi ao deserto da Arábia (Gálatas 1:17) onde, segundo se pressupõe, teve experiências especiais com Cristo (2 Coríntios 12:1-10), que lhe deram forças especiais para administrar o espinho na carne. As experiências dos desertos capacitam-nos a olhar os obstáculos com os olhos do Senhor. Razão que leva o autor de Aos Hebreus 11:38 a afirmar que os heróis da fé andaram pelos desertos em busca de uma pátria melhor.

Deus sempre tem algo melhor para os seus filhos após a travessia dos desertos. A esperança da terra prometida transforma os desertos em lugares poéticos e de contemplação de algo melhor. O mais importante nos desertos é saber, experimentar e firmar a certeza que o Senhor está presente. Sua graça não falta. Suas riquezas e insondáveis suprimentos são confirmados por sua misericórdia. O deserto não é o fim da jornada. Mas o início de uma convivência mais íntima com o Senhor. Aleluia! pelos desertos da jornada cristã

Autor:Pastor Julio Oliveira Sanches
fonte:http://www.pastorjuliosanches.org/

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