Pontual. É uma característica do seu caráter. Cumprir a palavra empenhada. Inclusive horário. Havia marcado com antecedência um encontro com o Pastor. Jovem, inteligente, cursando doutorado em Física Nuclear, na mais importante Universidade do país. Havia chegado há pouco da realização de curso de aprimoramento no exterior. Sua conversão, fora marcante. Família não evangélica, indiferente a qualquer conceito religioso. Foi evangelizado pela avó. Era produto das suas orações, quando criança e adolescente.
Mas agora na universidade começou a questionar a existência de Deus. Desejava ser desligado da Igreja. Questão de sinceridade. Não podia ter seu nome no rol de membros, se já não mais abraçava a fé inicial.
Sugeri-lhe que expusesse suas dúvidas. O porquê do abandono da fé simples, que um dia o levara a Cristo. Durante bom tempo descreveu, convicto, porquê não cria mais em Deus. Não significava que se tornara ateu. Aliás, para ser ateu é exigido fé especial. São poucos, ou quase ninguém, consegue fazê-lo com lógica incontestável. Concluiu dizendo. Pelo exposto não tenho condição de ser membro da Igreja. Peço minha exclusão.
Comecei por dizer-lhe que seus motivos eram fracos para a exclusão. Afinal, eu também não cria no deus que ele dizia não crer. Ainda mais, não cria numa série de deuses apregoados por muitos “cristãos”. Dei-lhe alguns exemplos.
Não creio no deus que não gera mudanças radicais na vida dos seus fiéis. O indivíduo confessa que entregou sua vida a Cristo. Que foi perdoado e passou pela regeneração espiritual. Mas continua fazendo as mesmas coisas. Mantém os mesmos vícios. Freqüenta os mesmos lugares, e, ainda arrebanha outros a segui-lo. Continua mentindo. Não cumpre a palavra. Prometeu ser fiel dizimista na profissão de fé, mas a Igreja nunca viu a cor de suas moedas. Conta as mesmas piadas imorais. Lê a mesma literatura dos incrédulos. Vê os mesmos filmes. Como filho, continua desobediente. Como pais, são péssimos exemplos para os filhos. Como cônjuges não mantêm a fidelidade conjugal. Relacionamentos negativos e agressivos. Como empregados são péssimos exemplos para os colegas. Como patrões são usurários. Enganam o fisco e sempre dão um jeitinho de escapar da lei. No trânsito, são agressivos. Não assumem compromisso com a Igreja. Entre um jogo, o culto ou uma conferência, o seu time favorito tem primazia. Afinal não se pode contar com eles. E dizem que crêem em Deus. Nesse deus que não gera mudança nos seus fiéis, eu não creio.
Não creio no deus que exige adereços para a salvação. A fé simples na pessoa de Jesus Cristo é insuficiente. O crente tem que guardar dias. Não comer determinada carne. Não pode tomar café, mas pode tomar cerveja. Proíbe os seus fiéis de cortar o cabelo. As mulheres são colocadas à margem no culto. O batismo confirma a salvação. Em alguns casos, sem batismo não há salvação. Sem Igreja não há salvação. O fiel perde a salvação, caso não cumpra os preceitos eclesiásticos. Nesse deus também não creio. O meu Deus me concede salvação pela graça, mediante Jesus Cristo, sem nenhum mérito pessoal. O perdão que Ele me concedeu é pleno e jamais serei cobrado por fazer ou deixar de fazer algo.
Também não creio no deus que divide com os santos, com a mãe de Jesus, com penitência, com missas pós morte, com purgatório, limbo e sufrágios outros a minha salvação. O Deus em que creio leva-me a olhar só para Jesus Cristo, como único mediador. No deus que precisa de auxílio de seres humanos para concretizar a salvação, não creio.
Não creio no deus que precisa de reencarnação, para purificação de pecados. Exige dos seus fiéis prolongados jejuns, para atender suas preces. Não creio no deus que recebe determinação e ordens expressas dos seus fiéis. Cujas bênçãos são medidas pelo valor da oferta do crente. No deus que permite a “manifestação” dos mesmos “diabos”, culto após culto, não creio. No deus que despreza a exposição bíblica e troca a Palavra por intermináveis louvores sensuais, marcados por “músicas” não condizentes com o verdadeiro e puro louvor, também não creio.
Não creio no deus que não gera mudanças radicais na vida dos seus fiéis. Que não transforma a língua mexeriqueira em lábios de louvor. O deus que não leva seus fiéis a viver de modo diferente. Que não dá coragem a seus adeptos para expressar de modo concreto as verdades bíblicas, também não crêem.
Creio no Deus soberano. Que não vive lutando com satanás, pois é Senhor absoluto de todas as coisas. Deus criador e sustentador do universo, que o estabeleceu e o controla por leis perfeitas. Deus onisciente que conhece todas as coisas. Imutável em seu agir. Justiça inquestionável. Que mesmo antes de criar o universo, permitir o pecado, ao estabelecer que respeitaria a liberdade da sua criatura, me salvou pelo sacrifício voluntário do seu Filho, que foi imolado antes de todas as coisas. (Efésios 1:3-14). Creio no Deus de Amor, que não faz acepção de pessoas e que me diz a cada momento, mediante o seu Filho. “Aquele que vem a mim jamais o lançarei fora.” (João 6:37). Creio no Deus que habita em mim, mediante a presença gloriosa do seu Santo Espírito (João 14:16-18, 23).
Concluímos que não havia razão para sua exclusão. Afinal o Pastor também não cria nos deuses modernos de muitos “cristãos”.
Autor:Pastor Julio Oliveira Sanches
fonte:http://www.pastorjuliosanches.org/
Nenhum comentário:
Postar um comentário